A história da morte de Jesus, conforme relatada por Marcos, é
uma sequência dramática. Duas frases introduzem esse drama. O tempo é definido
claramente: dois dias antes da Páscoa, quando milhares de cordeiros estão sendo
abatidos para a festa anual determinada á partir da saida do povo Hebreu do Egito. É a celebração ritual da salvação do Êxodo, o
acontecimento mas aguardado da história judaica. Nesse momento, os líderes
religiosos estão à caça de Jesus. A morte se faz presente no ar. Aquele que veio para dar
Vida aos homens, estava prestes á ser morto. Somente a crucificação de Cristo,
o homem perdido tem a chance de uma nova vida.
“Os crentes já não vivem mais apenas nesse mundo perdido e
dominado pela morte. Nele, o futuro do novo mundo da vida já se apoderou deste mundo perdido e dominado pela
morte, o condenando a ser um mundo que passa. Por isso mediante a fé no Jesus
ressuscitado, vivemos no meio de um passageiro mundo de morte, mas pelas novas
forças do novo mundo de vida que já irrompeu nele” [1].
Cristo venceu a morte, porque Ele também tem poder sobre a morte. Assim
como na introdução de Apocalipse, Paulo chama Cristo de o primogênito de toda a
criação e o primogênito dos mortos, especificamente referindo-se à sua
soberania sobre a criação e a morte. Jesus havia ressuscitado outras pessoas
dos mortos, mas é Jesus quem se mostrou vitorioso sobre a morte. O termo
“primogênito” reflete a noção hebraica de o primogênito ser dado um lugar de
importância especial[2].
Não está mais de acordo com o
Novo Testamento afirmar que com Cristo começa a escatologia
e a nova ordem, que ele é uma chave hermenêutica para descobrir Deus na nossa
história? Cristo mesmo, que é a Palavra do Pai (Jo 1.18 diz magnificamente a
respeito do Logos= Palavra que o Pai
revelou = exegésato), não disse tudo.
Deixou seu Espírito para que nos ensinasse (Jo 14.26) e nos conduzisse à
verdade plena (Jo. 16.13 hodegései humas en te alethéia pase).
A Bíblia é a leitura da fé dos eventos paradigmáticos da história salvífica, a
leitura paradigmática de uma história de salvação que ainda não terminou[3].
Crucificado de forma errada, e ao mesmo tempo Glorificado. Jesus é
o RD. Quando Jesus é ressuscitado junto dele vem sua vida inteira e não somente
seu caráter. A ressurreição é a coroa da vida fundamental, Jesus foi fiel até a
morte. A salvação é exclusivamente em Jesus, no sentido amplo em fazer dos
homens discípulos, seguidores de Jesus, seguidores não de um ser inanimado, mas
sim, de um ser vivo, presente, real.
Com
a ressurreição de Jesus Cristo se inicia a promessa e a abertura para o futuro.
A ressurreição é prolepse do que será o futuro, mas o futuro não se
esgota com a ressurreição, mas antes, confirma antecipadamente a promessa da
glória e do senhorio do futuro RD.
O apóstolo Lucas
descreve o momento pós-ressurreição diferente dos outros sinóticos:
O livro
de Lucas apresenta uma narrativa diferente da ressurreição de Cristo. Todos os
escritores mencionam a visita das mulheres à sepultura; mas o aparecimento do
Senhor aos discípulos a caminho de Emaús só é contado por Lucas. Ele fornece
três episódios principais da Ressurreição: a anunciação às mulheres, a
caminhada para Emaús, e o aparecimento no cenáculo. Ele conclui o Evangelho com
a ascensão em Betânia[4].
Vivemos
em uma era pluralista, não somente social, mas também teológica, onde é apresentada
uma diversidade infinita de interpretações bíblicas. A intenção não é mostrar
qual evangelho está correto em sua escrita, e sim, mostrar essa inclusão que o
evangelho de Lucas, escrito por um homem amoroso e detalhista, dá as classes
menos favorecidas de gentios excluídos da época de Jesus, dando-lhes uma visão
abrangente de que Cristo veio para judeus e não judeus. Croatto escreveu: “Aqueles
que sofrem devem esperar que os que estão
bem lhes expliquem o sentido da mensagem de libertação da palavra de Deus? A
questão da ‘apropriação’ do sentido também se coloca neste caso”[5].
Mulheres, crianças, enfermos, pobres, gentios, prostitutas etc., esses eram os
sofredores da época de Jesus.
Esta
abertura para o futuro começa com o comissionamento apostólico da Igreja
Primitiva e as aparições do Cristo ressuscitado. Essas aparições: “só é
compreensível se o próprio Jesus ressuscitado ainda tem um futuro, um futuro
universal em favor dos povos da terra” [6].
O Deus que
se faz conhecer em Jesus é o que cura os cegos, faz andar os coxos, acolhe os
pecadores, dá pão aos famintos, põe o homem acima do sábado, anuncia o RD, e
não o de César. A teologia lucana é uma teologia inclusivista, mostrando que a
linguagem do amor de Deus é universal, e a salvação é um desejo de Deus para a
humanidade inteira. O Messias Judeu é o salvador de todos os povos e nações.
Jesus rompe a Lei para incluir aqueles que estão fora da Lei.