Antes de abordarmos um cumprimento do plano de Deus por meio de Jesus Cristo em sua primeira vinda se faz necessário resgatar brevemente algumas considerações sobre o reino de Deus.
A
pregação do Reino é o tema central dos evangelhos sinópticos. O Reino de Deus
foi uma oferta feita ao povo de Israel, através de Cristo, porém, eles o rejeitaram.
No quarto livro do NT, o evangelho de João, o RD representa salvação, vida
eterna. Alguns historiadores dizem que o contexto da escrita de João condiz com
um período em que os homens estão desacreditados neste mundo.[1]
Nos
dias de Jesus, ao longo da história da igreja, o RD tem sido objeto de
diferentes entendimentos. Orígenes afirmou que o próprio Jesus era o Reino;
alguns entendem que o Reino se refere a um relacionamento apropriado com Deus;
outros o têm identificado com a igreja visível ou com uma ordem social
transformada; ainda outros têm insistido que Jesus se referia a uma intervenção
apocalíptica da parte de Deus.
“Para os
homens, a vinda escatológica de Deus significa o juízo e a salvação. Para Deus,
ela equivale à manifestação da sua glória, ou de seu Nome e à instauração do
seu Reino”.[2]
O Reino. Esse é um assunto extremamente
complexo. Nos evangelhos sinópticos encontramos o reino político. Israel será
restaurado, tendo o Messias como seu cabeça. Mas isso também inclui a idéia do reino entre os
homens, porque o Rei estará entre eles. No evangelho de João, porém, o reino é
um sinônimo virtual da salvação ou vida eterna, o que significa que esse
conceito é ali totalmente espiritualizado. Em Romanos 14.17, o reino é um
sinônimo virtual da atual espiritualidade cristã.[3]
Em
seu livro O Reino de Deus na América
(1937), H. Richard Niebuhr demonstrou que o tema do RD dominou o pensamento
teológico americano desde o início. Esse conceito teve diferentes sentidos ao
longo do tempo, desde a soberania de Deus na época dos puritanos e de Jonathan
Edwards, passando pelo Reino de Cristo na época dos avivamentos do século XIX,
até o Reino terreno de Deus no liberalismo do início do século XX. Na visão dos
liberais o RD é um reino de justiça e amor, já presentes aqui nessa terra,
assim, o RD está presente em parte, mas a sua manifestação final permanece uma
esperança para o futuro. O cristão sabe que o Reino veio num
novo sentido em Cristo, que pode manifestar-se em sua própria vida, mas que
ainda não veio plenamente. Desse modo, ele vive no mundo presente como um
cidadão obediente desse Reino, ao mesmo tempo em que pede a Deus um futuro
melhor: “Venha o teu reino”. Em sentido amplo, o Reino é um símbolo da vontade
de Deus que pode ser realizada em situações particulares através da obediência
e humildade, mas que nunca é plenamente concretizada dentro das fronteiras da
história por causa das limitações humanas.
O
RD trás a mensagem com uma tensão: como Cristo já veio ao mundo, morreu e
ressuscitou, há uma dimensão presente do RD. Como Cristo ainda não voltou para
pôr fim à realidade presente e instaurar os novos céus e terra, o RD é também
futuro.
Em
Jesus a lógica dualista “do dentro e do fora”, da imanência e da
transcendência, do sagrado e do profano, é superada. A experiência da revelação
depreendida das narrativas acerca de Jesus permite dizer acerca de Deus que o
RD não “vem de fora”, para um receptor parado e distante, “trata-se exatamente
do contrário; pois Deus já está sempre dentro, sustentando, promovendo e
iluminando”. Nesse sentido a revelação, a experiência de Jesus dá testemunho,
consiste em aperceber-se do Deus que como origem fundante está “já dentro”,
habitando nosso ser e procurando se manifestar a nós. “Não se poderá dizer:
Ei-lo aqui! Ei-lo ali! “Pois eis que o Reino de Deus já está dentro de vós”.[4]
A missão do Cristo é
o RD. Um RD que não se retém a nenhum grupo religioso, um RD é sempre
excedente, com demandas que não comportam totalmente em si. O legado deixado
por Cristo em sua ascensão tornou a Igreja a anunciadora do RD. A Igreja só
pode fazer sua missão à luz do ES, com uma eclesiologia pneumatológica e
cristológica ao mesmo tempo. A lógica do RD não é a quantidade de grupos, mas o
espalhamento da mensagem, não que elas tenham que estar aqui, ou ali, é claro
que é bom ficar aqui, unidos, mas pode ocorrer na expansão, na não fidelização.
O RD nos contrapõe. O RD veio, e está aqui para nos desafiar a estabelecer
relações novas, relação com Deus, relação com o homem, relação com o Cosmo,
dando ao homem desumanizado uma chance de reumanização. Muitas Igrejas tentam
arrumar liturgicamente o que não conseguem arrumar teologicamente, a Igreja tem
que focar e redimensionar os valores reais da fé, deixando de sacrificar o RD
no altar dos grandes grupos. O RD não respeita barreira denominacionais,
banalizando vidas e pessoas. Os caminhos pelo deserto têm seus significados. O
profeta Gentileza é o RD.[5]
Em
virtude dessa tensão existente no debate sobre o RD, por exemplo, a dimensão
presente nesse Reino, o fato de que ele já veio ao Mundo morreu e ressuscitou,
e também o fato de que ainda não voltou para o cumprimento pleno do RD, é
importante considerarmos a abordagem que as escrituras fazem sobre a primeira
vinda de Cristo. primeiramente com João Batista,
A
abordagem do RD está ligada diretamente á Cristo, pois ele é o proclamador do
RD, um RD para todos e em todos, um RD Universal que não necessita de outro
mediador que seja o próprio Cristo encarnado, morto, ressuscitado, e hoje Vivo.
O texto bíblico descreve claramente
a Kênosis[6] do
Filho de Deus: “Tende
em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo
em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia
aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se
semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.
Filipenses 2.5:8
A vinda do Messias já
era esperada por muitos, como está descrito no AT, muito se especulou sobre a
primeira vinda de Cristo, inclusive profecias davam uma visão ampla de que um
profeta viria para preparar o caminho para o Filho de Deus.
[1] Comentário referente ao texto bíblico
de João 3.3-5 – o nascer de novo
respondido por Jesus a Nicodemos.
[2]
BRAKEMEIER, Gottfried. O
Reino de Deus e esperança apocalíptica, p.40.
[3] CHAMPLIN, R. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia,
volume II, p.465
[4]
ROCHA, Alessandro. Experiência e
Discernimento, p.252
[5] ROCHA,
Alessandro. Aula de pneumatologia na Disciplina de Teologia Sistemática III.
06/06/2012.
[6] Palavra grega que
significa «esvaziamento». A teologia aplica o termo ao ato de Cristo, o Filho e
Deus: ao tomar-se homem, o que significa que ele se esvaziou de seus atributos
e poderes divinos, embora não de sua natureza divina. Exatamente até que ponto
ocorreu esse esvaziamento é ponto disputado,
como também como Cristo o fez. Todavia, não se pode chegar a uma resposta
adequada, porque, ao tocarmos nessa questão, estamos abordando um dos grandes
mistérios divinos. CHAMPLIN, enciclopédia
de teologia de filosofia, p.764