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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ELE VENCEU A MORTE

A história da morte de Jesus, conforme relatada por Marcos, é uma sequência dramática. Duas frases introduzem esse drama. O tempo é definido claramente: dois dias antes da Páscoa, quando milhares de cordeiros estão sendo abatidos para a festa anual determinada á partir da saida do povo Hebreu do Egito. É a celebração ritual da salvação do Êxodo, o acontecimento mas aguardado da história judaica. Nesse momento, os líderes religiosos estão à caça de Jesus. A morte se faz presente no ar. Aquele que veio para dar Vida aos homens, estava prestes á ser morto. Somente a crucificação de Cristo, o homem perdido tem a chance de uma nova vida.

“Os crentes já não vivem mais apenas nesse mundo perdido e dominado pela morte. Nele, o futuro do novo mundo da vida já se  apoderou deste mundo perdido e dominado pela morte, o condenando a ser um mundo que passa. Por isso mediante a fé no Jesus ressuscitado, vivemos no meio de um passageiro mundo de morte, mas pelas novas forças do novo mundo de vida que já irrompeu nele” [1].

                        Cristo venceu a morte, porque Ele também tem poder sobre a morte. Assim como na introdução de Apocalipse, Paulo chama Cristo de o primogênito de toda a criação e o primogênito dos mortos, especificamente referindo-se à sua soberania sobre a criação e a morte. Jesus havia ressuscitado outras pessoas dos mortos, mas é Jesus quem se mostrou vitorioso sobre a morte. O termo “primogênito” reflete a noção hebraica de o primogênito ser dado um lugar de importância especial[2].

Não está mais de acordo com o Novo Testamento afirmar que com Cristo começa a escatologia e a nova ordem, que ele é uma chave hermenêutica para descobrir Deus na nossa história? Cristo mesmo, que é a Palavra do Pai (Jo 1.18 diz magnificamente a respeito do Logos= Palavra que o Pai revelou = exegésato), não disse tudo. Deixou seu Espírito para que nos ensinasse (Jo 14.26) e nos conduzisse à verdade plena (Jo. 16.13 hodegései humas en te alethéia pase). A Bíblia é a leitura da fé dos eventos paradigmáticos da história salvífica, a leitura paradigmática de uma história de salvação que ainda não terminou[3].
         

                        Crucificado de forma errada, e ao mesmo tempo Glorificado. Jesus é o RD. Quando Jesus é ressuscitado junto dele vem sua vida inteira e não somente seu caráter. A ressurreição é a coroa da vida fundamental, Jesus foi fiel até a morte. A salvação é exclusivamente em Jesus, no sentido amplo em fazer dos homens discípulos, seguidores de Jesus, seguidores não de um ser inanimado, mas sim, de um ser vivo, presente, real.

                        Com a ressurreição de Jesus Cristo se inicia a promessa e a abertura para o futuro. A ressurreição é prolepse do que será o futuro, mas o futuro não se esgota com a ressurreição, mas antes, confirma antecipadamente a promessa da glória e do senhorio do futuro RD.

                        O apóstolo Lucas descreve o momento pós-ressurreição diferente dos outros sinóticos:


O livro de Lucas apresenta uma narrativa diferente da ressurreição de Cristo. Todos os escritores mencionam a visita das mulheres à sepultura; mas o aparecimento do Senhor aos discípulos a caminho de Emaús só é contado por Lucas. Ele fornece três episódios principais da Ressurreição: a anunciação às mulheres, a caminhada para Emaús, e o aparecimento no cenáculo. Ele conclui o Evangelho com a ascensão em Betânia[4].

                        Vivemos em uma era pluralista, não somente social, mas também teológica, onde é apresentada uma diversidade infinita de interpretações bíblicas. A intenção não é mostrar qual evangelho está correto em sua escrita, e sim, mostrar essa inclusão que o evangelho de Lucas, escrito por um homem amoroso e detalhista, dá as classes menos favorecidas de gentios excluídos da época de Jesus, dando-lhes uma visão abrangente de que Cristo veio para judeus e não judeus. Croatto escreveu: “Aqueles que sofrem devem esperar que os que estão bem lhes expliquem o sentido da mensagem de libertação da palavra de Deus? A questão da ‘apropriação’ do sentido também se coloca neste caso”[5]. Mulheres, crianças, enfermos, pobres, gentios, prostitutas etc., esses eram os sofredores da época de Jesus.
 
Esta abertura para o futuro começa com o comissionamento apostólico da Igreja Primitiva e as aparições do Cristo ressuscitado. Essas aparições: “só é compreensível se o próprio Jesus ressuscitado ainda tem um futuro, um futuro universal em favor dos povos da terra” [6].

                        O Deus que se faz conhecer em Jesus é o que cura os cegos, faz andar os coxos, acolhe os pecadores, dá pão aos famintos, põe o homem acima do sábado, anuncia o RD, e não o de César. A teologia lucana é uma teologia inclusivista, mostrando que a linguagem do amor de Deus é universal, e a salvação é um desejo de Deus para a humanidade inteira. O Messias Judeu é o salvador de todos os povos e nações. Jesus rompe a Lei para incluir aqueles que estão fora da Lei.



[1] MOLTMANN, J. O Deus Crucificado, 2011, p.213.
[2] MOODY, 571, citando Éxodo 4.22, Jeremias 31.9 e Salmo 89.27.
[3] CROATTO, José Severino. Hermenêutica Bíblica, p.51.
[4] MODDY. Lucas, p.105.
[5] CROATTO, José Severino. Hermenêutica Bíblica, p.43.
[6] MOLTMANN, J. Teologia da Esperança, p.100.

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