Jesus
ou Barrabás? Lemos que o criminoso Barrabás, já preso por
sedição e homicídio, foi solto. Mas que Jesus, inocente de qualquer acusação,
foi entregue ao cruel castigo de açoites.
É
incrível como a natureza humana, representada naquele momento pelas autoridades
judaicas e pela multidão de judeus que se tinham reunido diante do palácio do
governador, se voltou tão ferozmente contra o seu próprio Criador. Em altos
brados eles exigiram a soltura de Barrabás e a crucificação de Jesus. Pilatos
procurou eximir-se de sua responsabilidade lavando as mãos diante do povo, como
que a dizer: “Estou livre do sangue deste inocente” [1].
Alguns textos atestam
isso: Mateus 27.45: “E, desde a hora sexta, houve trevas sobre
toda a terra, até a hora nona”.
“‘E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia
é a vossa fé’, diz Paulo em 1 Cor.15.14. Se a Cruz de Jesus é chamada de
‘fato-central’ da fé cristã, então
sua ressurreição deve ser chamada de data primordial da fé cristã”, diz Jürgen
Moltmann em O Deus crucificado[2].
Cristo
nasceu para também revisar a instituição do sacrifício, na narrativa dos evangelhos
não há um momento que ele mande ou faça sacrifícios, em nenhuma de suas
pregações há sacrifício. Jesus assume a Redenção nEle mesmo, na Graça que custa
a sua própria vida. Corrigir a expressão “Ele morreu para nos salvar”, para “ele
viveu para nos salvar”. Não só a morte, mas a sua vida inteira é salvífica. A
morte é a erradicação desse ser de Jesus. A morte é necessária porque Jesus
anuncia o RD, e não é acolhido, e esse não acolhimento se transforma numa
perseguição. Ninguém tira a vida, e sim dá a vida. Não morrer seria renunciar a
salvação. Salvação é outro modo de existir. Jesus já nos salva na encarnação e
continua nos salvando na pregação. Sua morte é salvífica e sua vida inteira é
alcançada na redenção, reintegrando a vida no plano divino. O Deus que vem é o
mesmo que vai, levando a realidade na própria pessoa humana. Salvação é vida e
não morte, e vida gera vida. Jesus ressuscitou, nossa pregação é vã se isso não
aconteceu[3].
Jesus sofreu e morreu, no evangelho
de Mateus
está relatada a hora do evento divino: “e, desde a hora sexta, houve trevas
sobre toda a terra, até a hora nona”. Esse é
apenas um espaço curto de tempo, pelo qual Jesus se submeteu naquela semana
Pascal, que pela hora o Sol deveria estár raiando na imensidão celeste, mas não
foi isso que aconteceu, naquele momento a escuridão sobrenatural tomou conta do
Céu azul.
A morte de Cristo é a trama que dá
estrutura ao relato do evangelho. Os quatro autores dos evangelhos, cada um a
seu modo, contam a história da paixão de Jesus, seu sofrimento e morte, e
depois acrescentam uma introdução ampliada.
Jesus
morreu. Não há como evitar esse fato fundamental. E, de uma forma ou de outra,
eu também vou morrer. Não há como evitar esse fato igualmente fundamental.
Nessa conjunção de mortes, a de Jesus e a minha, é onde começo a receber a
salvação. Paulo condensa toda a operação de Deus em nossa vida nas seguintes
palavras, e mais nada: "Jesus Cristo é este crucificado" (1 Co 2.2), o
até então futuro apóstolo Paulo participa dessa crucificação(Gl 2.19-20).
Nada no relato sobre Jesus poderia
ser mais claro ou apresentado de modo mais inequívoco do que isto: que Jesus
escolheu o caminho do sofrimento e da morte; que ele o fez em continuidade com
toda a história do povo de Deus antes dele; e que esse sofrimento e essa morte
foram querigmáticos. O sofrimento, o pior que a vida pode nos oferecer, é a
substância da qual nossa salvação é formada.
A morte de Jesus é uma morte sofrida
em fidelidade a sua vocação. Não é simplesmente o destino de morrer que dá
valor ao sacrifício da morte de Jesus, mas também a questão da vida como
sublime forma de aceitação de sua vocação, dando uma cosmovisão da vida maravilhosamente
ativa para o RD que Jesus viveu.
A história da morte de Jesus,
conforme relatada por Marcos, é uma sequência dramática. Duas frases introduzem
esse drama. O tempo é definido claramente: dois dias antes da Páscoa, quando
milhares de cordeiros estão sendo abatidos para a festa anual. É a celebração
ritual da salvação do Êxodo, o acontecimento definidor da história judaica.
Nesse momento, os líderes religiosos estão à caça de Jesus. A morte paira no
ar. Aquele que veio para dar Vida aos homens, estava prestes á ser morto.
Somente a crucificação de Cristo, o homem perdido tem a chance de uma nova
vida.
“Os crentes já não vivem mais apenas nesse mundo perdido e
dominado pela morte. Nele, o futuro do novo mundo da vida já se apoderou deste mundo perdido e dominado pela
morte, o condenando a ser um mundo que passa. Por isso mediante a fé no Jesus
ressuscitado, vivemos no meio de um passageiro mundo de morte, mas pelas novas
forças do novo mundo de vida que já irrompeu nele” [4].
Cristo venceu a morte, porque Ele também tem poder sobre a morte. Assim
como na introdução de Apocalipse, Paulo chama Cristo de o primogênito de toda a
criação e o primogênito dos mortos, especificamente referindo-se à sua
soberania sobre a criação e a morte. Jesus havia ressuscitado outras pessoas
dos mortos, mas é Jesus quem se mostrou vitorioso sobre a morte. O termo
“primogênito” reflete a noção hebraica de o primogênito ser dado um lugar de
importância especial[5].
Não está mais de acordo com o
Novo Testamento afirmar que com Cristo começa a escatologia
e a nova ordem, que ele é uma chave hermenêutica para descobrir Deus na nossa
história? Cristo mesmo, que é a Palavra do Pai (Jo 1.18 diz magnificamente a
respeito do Logos= Palavra que o Pai
revelou = exegésato), não disse tudo.
Deixou seu Espírito para que nos ensinasse (Jo 14.26) e nos conduzisse à
verdade plena (Jo. 16.13 hodegései humas en te alethéia pase).
A Bíblia é a leitura da fé dos eventos paradigmáticos da história salvífica, a
leitura paradigmática de uma história de salvação que ainda não terminou[6].
Crucificado de forma errada, e ao mesmo tempo Glorificado. Jesus é
o RD. Quando Jesus é ressuscitado junto dele vem sua vida inteira e não somente
seu caráter. A ressurreição é a coroa da vida fundamental, Jesus foi fiel até a
morte. A salvação é exclusivamente em Jesus, no sentido amplo em fazer dos
homens discípulos, seguidores de Jesus, seguidores não de um ser inanimado, mas
sim, de um ser vivo, presente, real.
Com
a ressurreição de Jesus Cristo se inicia a promessa e a abertura para o futuro.
A ressurreição é prolepse do que será o futuro, mas o futuro não se
esgota com a ressurreição, mas antes, confirma antecipadamente a promessa da
glória e do senhorio do futuro RD.
O apóstolo Lucas
descreve o momento pós-ressurreição diferente dos outros sinóticos:
O livro
de Lucas apresenta uma narrativa diferente da ressurreição de Cristo. Todos os
escritores mencionam a visita das mulheres à sepultura; mas o aparecimento do
Senhor aos discípulos a caminho de Emaús só é contado por Lucas. Ele fornece
três episódios principais da Ressurreição: a anunciação às mulheres, a
caminhada para Emaús, e o aparecimento no cenáculo. Ele conclui o Evangelho com
a ascensão em Betânia[7].
Vivemos
em uma era pluralista, não somente social, mas também teológica, onde é apresentada
uma diversidade infinita de interpretações bíblicas. A intenção não é mostrar
qual evangelho está correto em sua escrita, e sim, mostrar essa inclusão que o
evangelho de Lucas, escrito por um homem amoroso e detalhista, dá as classes
menos favorecidas de gentios excluídos da época de Jesus, dando-lhes uma visão
abrangente de que Cristo veio para judeus e não judeus. Croatto escreveu: “Aqueles
que sofrem devem esperar que os que estão
bem lhes expliquem o sentido da mensagem de libertação da palavra de Deus? A
questão da ‘apropriação’ do sentido também se coloca neste caso”[8].
Mulheres, crianças, enfermos, pobres, gentios, prostitutas etc., esses eram os
sofredores da época de Jesus.
Esta
abertura para o futuro começa com o comissionamento apostólico da Igreja
Primitiva e as aparições do Cristo ressuscitado. Essas aparições: “só é
compreensível se o próprio Jesus ressuscitado ainda tem um futuro, um futuro
universal em favor dos povos da terra” [9].
O Deus que
se faz conhecer em Jesus é o que cura os cegos, faz andar os coxos, acolhe os
pecadores, dá pão aos famintos, põe o homem acima do sábado, anuncia o RD, e
não o de César. A teologia lucana é uma teologia inclusivista, mostrando que a
linguagem do amor de Deus é universal, e a salvação é um desejo de Deus para a
humanidade inteira. O Messias Judeu é o salvador de todos os povos e nações.
Jesus rompe a Lei para incluir aqueles que estão fora da Lei.
O panorama textual descrito nesse capítulo expressa que o Dia do
Senhor já aconteceu através de Jesus Cristo encarnado, na sua primeira vinda ao
Mundo.
O DIA DO SENHOR
UM OLHAR PRESENTE E
ESCATOLÓGICO DO DIA DO SENHOR EM PARALELO COM A CHEGADA DO REINO DE DEUS
[1] CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Volume III. P.709
[2] MOLTMANN, J. O Deus Crucificado, 2011, p.201.
[3] Aula do
dia 04/04/2012, Professor Doutor Alessandro Rocha, Disciplina Sistemática III,
FATERJ, 19:00hrs.
[4] MOLTMANN, J. O Deus Crucificado, 2011, p.213.
[5] MOODY, 571, citando
Éxodo 4.22, Jeremias 31.9 e Salmo 89.27.
[6]
CROATTO, José Severino. Hermenêutica
Bíblica, p.51.
[7]
MODDY. Lucas, p.105.
[8] CROATTO, José Severino. Hermenêutica Bíblica, p.43.
[9] MOLTMANN, J. Teologia
da Esperança, p.100.
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